segunda-feira, 10 de maio de 2010

Paulistão 2010: Retrospectiva Santista

Quando 2009 acabou, nós, santistas, agradecemos. Brigamos até as últimas rodadas para não sermos rebaixados e não queríamos mais saber desse ano. Estávamos, enfim, livres de Marcelo Teixeira, e Luís Álvaro de Oliveira era visto como salvação (ou ao menos uma evolução).
Esperávamos contratações, muitas delas. Mas poucas vieram. A mais comentada era a volta do craque Giovanni. Outra vista com bons olhos foi a contratação de Marquinhos, que tinha feito um Brasileiro primoroso pelo Avaí. Dorival Jr. seria o novo comandante do time. E só. Eu, particularmente, achava que Durval era uma contratação excelente, mas pouco se comentou. Arouca era uma incógnita. A volta de Wesley e Roberto Brum quase passou despercebida. Bruno Rodrigo e Bruno Aguiar, então...
Resultado: 2010 não seria um ano de muitas alegrias para os santistas, certo? Não.
O Campeonato Paulista começou, e o Santos era visto apenas como a quarta potência pela mídia.
Na primeira rodada, no Pacaembu, a primeira goleada. 4 x 0 contra o Rio Branco, dois gols de Paulo Henrique Ganso, dois gols de Neymar. Dois jogadores que pertencem ao Santos há um bom tempo. Dois jogadores que eram do plantel já no ano passado. O meia havia se destacado em algumas partidas, o atacante era reserva do time de Luxemburgo. No final do jogo, Dorival Jr. promoveu a reestreia de Gio, para delírio dos torcedores.
Na segunda rodada, um empate. Contra a Ponte Preta, na Vila. Péssimo resultado. Na terceira, derrota para o Mogi Mirim, fora de casa. Também péssimo resultado. Mas em ambas as partidas, o Santos criou diversas oportunidades de gols, e os resultados adversos eram injustos. Mas causou desconfiança.
Os gols resolveram acontecer na rodada seguinte. 5 x0 contra o Grêmio Prudente, ainda chamado Grêmio Barueri. André fazia seu primeiro gol pelo Peixe e Wesley, o primeiro na sua volta. Show dos garotos.
Dois dias depois, o acontecimento. Robinho, Santos e Manchester City entravam em um acordo. O ídolo voltaria para sua casa por seis meses.
E depois de conquistar a primeira vitória na Vila, contra o Oeste, veio o primeiro dos três difíceis jogos contra o Santo André. 2 x 1 no Bruno José Daniel. Neymar dava show há três rodadas consecutivas. Ganso não ficava atrás e, para a surpresa de quase todos os santistas, Wesley se destacava em uma posição completamente diferente da que ele atuava quando deixou o Santos, por empréstimo. Santos líder do Campeonato Paulista.
Veio o clássico contra o São Paulo, e comentava-se que poderia ser o jogo da volta de Robinho.
O jogo foi dominado pelo Peixe. Neymar, batendo pênalti de paradinha, abriu o placar. Robinho entrou, deu um passe primoroso de calcanhar no ar (igual a outro que falarei no final dessa retrospectiva) e perdeu um golaço. O Santos estava perto de fazer mais um e matar o jogo, mas quem fez foi o São Paulo. E poderia ter virado, mas seria uma injustiça. O empate já era uma injustiça.
Para encurtar, finalzinho de jogo, gol do Santos. Melhor, GOLAÇO do Santos. GOLAÇO de Robinho. De letra, o ídolo santista deixava Rogério Ceni, são-paulinos, palmeirenses, corinthianos e santistas sem reação. Ele estava de volta.
Santos 2 x 1 Rio Claro. Gol de Giovanni no final. Santos 6 x 3 Bragantino, a terceira goleada do time na temporada. Dois de Robinho, dois de André, um de Wesley, outro de Zé Eduardo, o reserva artilheiro. E começaria a Copa do Brasil.
O Naviraiense seria a quarta goleada, mas não foi. 1 x 0, gol no final. E ainda bem que não fizemos o segundo.
E o próximo adversário seria o Corinthians. Assim como contra o São Paulo, o Santos dominou a partida. Neymar perdeu um pênalti, mas fez um golaço. No segundo tempo, André fez o segundo. Em um gol chorado, o Corinthians diminuiu. 2 x 1. Quando Roberto Carlos e Moacir foram expulsos, era hora do Santos golear. Mas ao contrário disso, quase sofreu o empate, com uma cabeceada de Tcheco no travessão. Cinco minutos depois, final de jogo. Ufa! Ótimo resultado. Outro clássico vencido, novamente fora de casa. Mas um problema inexplicável começava a aparecer: o Santos não sabe jogar com um (ou dois) a menos. Fora assim nos dois clássicos.
Depois, vitória contra o Paulista. Destaque para Robinho, que marcou o golaço da vitória, depois de ter jogado pela Seleção e voltado de viagem praticamente no mesmo dia do jogo.
Contra a Portuguesa, o jogo mais difícil do campeonato até então. A Lusinha mostrou para os adversários como parar o Santos. Perdíamos o jogo desde os 14 minutos do primeiro tempo, e nem as grandes jogadas pareciam funcionar. O adversário poderia ter matado o jogo, mas não matou. Dorival Jr., grande destaque do Santos na minha opinião, colocou Zé Eduardo em campo no lugar de André. E aos 44 minutos do segundo tempo, na raça, no bate-rebate, 1 x 1. Final de jogo. O primeiro jogo da temporada que o Peixe não merecia ganhar.
No meio de semana, Copa do Brasil. 10 x 0. Quarta goleada. Nada a comentar, já que o placar fala por si próprio.
Pela 14ª rodada, o Palmeiras. O mais fraco dos grandes, naquela ocasião. O Santos, o mais forte do Brasil, para praticamente todos os envolvidos no mundo do futebol.
O primeiro clássico em casa. 1 x0, golaço de Pará (sem querer, é verdade). 2 x 0 Santos, gol de Neymar, tropeçando no próprio pé. Na comemoração de ambos os gols, dancinha. Neymar quase fez o terceiro, e mataria o jogo. O jogo estava faturado, quando quiséssemos, faríamos o terceiro e o quarto. Mas não fizemos. Robert diminui. Dois minutos depois, Robert empata para o Palmeiras. Dancinha para o Palmeiras. Inegavelmente, uma cena engraçada. Ridícula foi a declaração do bom jogador, mas fraquíssimo de cabeça, Diego Souza. As danças não são para provocar o adversário, ô cabeça de bagre! E não, elas não ocorrem só quando o time está vencendo e quando os jogadores acham que o jogo está ganho.
No segundo tempo, o Palmeiras voltou animado. O revoltadinho virou a partida em um gol sofrido, aos 11 minutos. Madson, aos 35, deixou tudo igual. E o resultado parecia justo. Mas a estrela do jogo, Robert, marcou seu terceiro gol. Um belo gol, diga-se de passagem. Fim de jogo. O Santos conseguiu sua terceira vitória em clássicos nessa partida, e também conseguiu a sua primeira derrota.
Contra o Remo, em Belém do Pará, 4 x 0. Quinta goleada na temporada, classificação garantida para as oitavas-de-final na primeira partida.
O próximo adversário, Ituano, tinha uma personagem muito conhecida pelos torcedores. Saulo, o goleiro daquele episódio fatídico que não comentarei aqui (até porque ainda tenho certeza de que aquele jogo foi uma armação para derrubar o técnico). 9 x 1. MAIS UM SHOW. MAIS UMA GOLEADA. A sexta. E dessa vez, sem Robinho e Neymar.
Botafogo-SP 2 x 4 Santos. Um jogo difícil. Marquinhos jogou muita bola e marcou dois. A classificação estava há um bom tempo garantida. Matematicamente, só depois dessa rodada.
Santos 5 x 0 Monte Azul. A sétima goleada. Novamente, dois de Marquinhos. E outros dois de Ganso. O último, André marcou.
Na penúltima rodada, o São Caetano. Fora de casa, 3 x 1. Mais uma vitória.
Na última rodada, os reservas quase aplicaram a oitava goleada. 4 x 2 contra o Sertãozinho.
Classificação: 47 pontos dos 57 possíveis. Dez pontos a frente do segundo e terceiro colocados. Onze a frente do São Paulo, quarto colocado. Doze a frente do Corinthians, quinto e primeiro eliminado. Vinte e dois (um número que meu primo de três anos não sabe contar) a frente do Palmeiras, quase o dobro dos pontos conquistado por eles, que foram os primeiros colocados na segunda metade da tabela.
Nós pegaríamos o São Paulo nas semi-finais, com a vantagem de jogar a segunda partida em casa e por um empate na soma dos dois resultados.
Os invejosos diziam que agora o time tremeria. Que em jogos decisivos, o time não funcionaria. Sem dúvidas, era a primeira prova de fogo do time.
No Morumbi, o Santos dominou o primeiro tempo e foi dominado no segundo. 2 x0 na etapa inicial, e Marlos, a possível estrela deles, expulso.
Jogando com um a menos, o São Paulo dominou o meio de campo, e assim, o jogo. 2 x 2. Mas o jogo não tinha acabado. Durval. De cabeça. Agora o São Paulo teria de ganhar do Santos por dois gols de diferença, algo inédito em jogos oficiais na temporada.
Meio de semana, Santos e Guarani. 8 x 1. Oitava goleada, classificação garantida para as quartas-de-final, mesmo tendo o segundo jogo pela frente.
Na Vila, o São Paulo nunca teve chances. O Santos não deu chances. 3 x 0. Com Neymar, repetindo uma cobrança de pênalti com paradinha contra Rogério Ceni. Calando os invejosos, estávamos na final.
A final seria entre o melhor e o segundo melhor do campeonato. Tanto na classificação quanto por futebol apresentado. Os dois jogos no Pacaembu. Os reservas do Santos haviam perdido para o Guarani, depois de terem a vitória nas mãos. Mas isso não era notícia.
Em campo, Santos x Santo André. Na torcida, Santos x Resto do Brasil.
Alguns tratavam os jogos como formalidade, considerando o título do Santos. Os santistas, tanto jogadores quanto torcedores, sabiam que não seria fácil.
O primeiro tempo do primeiro jogo, foi deles. O Santos quase fez o gol, em menos de um minuto. Depois, só deu Santo André. O gol saiu de uma falta inexistente, mas era merecido pelo time do ABC. Outro lance para se destacar foi a contusão de Neymar. O atacante, em alta velocidade entrou na área do Santo André, foi tocado na canela e caiu. Pênalti não marcado e reclamado pelos jogadores adversários dizendo que o craque havia se jogado. Na queda, sua própria mão golpeou o olho, prejudicando sua visão.
Neymar substituído por André. Léo voltou para o segundo tempo dizendo que Dorival Jr. havia dado uma bronca daquelas no time. E deu certo.
André, em jogada genial de Ganso, empatou. Wesley virou e aumentou a vantagem. Toninho foi expulso. Era a hora de golear e garantir o título. Mas o problema de jogar com um a menos voltou. O Santo André diminuiu e podia ter empatado. 3 x 2.
Durante a semana, o Atlético Mineiro de Vanderlei Luxemburgo. Porque o São Paulo não era um teste suficiente, mas o Atlético seria, segundo os cegos do futebol. Sem Neymar, e Robinho jogando grande partida, 3 x 2 para o adversário. Um bom resultado.
No segundo jogo, o Santo André precisava da mesma coisa que o São Paulo precisava, vencer por dois gols de diferença.
Com menos de um minuto, 1 x 0 para o resto do Brasil. Na saída de bola depois do gol, a sensação era que o jogo estava 0 x 0 e que o Santo André precisaria apenas ganhar.
O empate não demorou. Aos 7, Robinho, repetindo o passe magistral que havia dado contra o São Paulo, deixou Neymar na cara do gol. Driblou o goleiro, mais um e ainda mais outro. Golaço.
A bola na trave aos 16 minutos e o gol mal anulado do novo azulão aos 18 eram apenas uma mensagem do que aconteceria aos 19. Em cobrança de escanteio, desvio de cabeça de Alê. 2 x 1 adversários.
Os que pouco entendem de futebol diziam que era para estar 3 x 1 Santo André. Ora, se o gol mal anulado e o gol bem marcado ocorreram em um espaço de tempo de menos de dois minutos, como é que se pode dizer que esse seria o placar? Cegueira causada pelo ódio dos meninos da Vila, só pode.
Aí, a confusão. Novamente, em velocidade, Neymar sofre um toque na canela e cai. Falta clara para os entendedores do esporte. O juiz não marcou, os jogadores do Santo André pediam, sem razão alguma, o cartão para Neymar. Criou-se um bolo na entrada da área do Santo André. Léo e Nunes, que nem estavam neste bolo, desentenderam-se e acabaram merecidamente expulsos.
10 contra 10. Hora do destaque da final aparecer. Ganso!
Aos 31, o meia de 20 anos viu o que ninguém viu. Neymar livre e com espaço para entrar na área. E fez o que NINGUÉM faria. Um passe genial. De letra. 2 x 2. Gol dele, apesar de ter sido o outro garoto, o atacante, que colocou pra dentro das redes. Novamente, golaço!
Em um momento de insanidade, Marquinhos foi expulso e deixou o Santos em desvantagem.
No final do primeiro tempo, o Santos perde a bola no meio-campo e, em uma triangulação impecável do Santo André, 3 x 2. Branquinho (um baita jogador). Outro golaço.
Os gols parariam por aí. Não as emoções.
No segundo tempo, logo no início, Arouca salva o time. Rodriguinho arranca do meio de campo, passa por Felipe e chuta. O volante, em cima da linha, bota a bola para a linha de fundo. Gol do Santos! Pelo menos a comemoração foi de um. Era o Santos, que havia marcado 100 gols na temporada, jogando pela primeira vez, defensivamente.
Em um lance “esquecido” por aqueles que querem manchar a trajetória do Santos, Arouca entra na área e sofre pênalti claro, não marcado.
Em outro lance esquecido, o juiz marca uma falta para o Santos, quando Ganso havia dado continuidade no lance e se encontrava dentro da área, cara a cara com o bom goleiro Julio Cesar.
Dorival trocou Robinho por André. Depois, Neymar por Roberto Brum. O Santos precisava aprender a jogar daquele jeito estranho, que os jogadores não conheciam... Sem ir pra frente, priorizando a tal da defesa. E com um a menos.
Dois a menos, já que Roberto Brum não ficou muito tempo em campo. Expulso, como Marquinhos, em uma falta desnecessária na intermediária.
Dorival quis sacar Ganso, achando que o meio-campista estivesse cansado. E ele realmente estava, mas ele não sairia de jogo. Disse que não. Ele sabia que o jogo era dele. Ele havia lido o jogo, era questão de lógica. Ele prenderia a bola, ele faria o tempo passar. Ele abafaria a pressão do time do ABC. Sobrou para André, que deu espaço para o zagueiro Bruno Aguiar.
Alguns encararam as substituições de Dorival Jr. como erro. Mas o time jogava com dois a menos, desgastado pelos jogos da Copa do Brasil, enfrentando um time descansado e leve. Não havia muito a fazer.
Ganso fez o que tinha que fazer. Prendeu a bola, sofreu faltas, cobrou escanteios para ninguém e depois pressionou a saída de bola adversária. Mas isso não era suficiente.
Enfartando alguns e deixando TODOS os santistas mudos, aos 44, Rodriguinho acertou a trave em um cruzamento. Por muito pouco, o título não escapou. Mas se aquela bola não havia entrado, nenhuma outra entraria. Seríamos campeões!
E fomos. Mais sofrido do que qualquer um podia imaginar. Para os pouco entendidos, “roubado”. Para os entendidos, merecido. É verdade que esse merecimento veio da campanha toda, porque o Santo André foi mais time na segunda partida.
O Santos entrou na competição como azarão. Conquistou uma legião de fãs, jogando um futebol maravilhoso. Neymar, Ganso e Robinho como protagonistas, Wesley, Arouca, Felipe, Léo, Durval, Edu, Madson, Zé Eduardo, Pará (um GIGANTE na 2ª fase da competição) e outros como secundários conquistaram mais que um título. Conquistaram rivais e a imprensa. E o pensamento único na minha cabeça é: Se o Dunga chamasse o plantel do Santos, o Hexa seria muito mais fácil de conquistar!

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